sábado, 7 de março de 2009

APRESENTAÇÃO DE PATATIVA DO ASSARÉ AOS DELEGADOS DO ENCONTRO DA SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA

Oswald Barroso


Escutai, cientistas e senhores
Cá chegados de todo esse Brasil
Nesta noite, o cantar forte e viril
A ciência, o saber dos cantadores
Dos poetas do povo, dos cantores
Da minha gente sofrida e humilhada.
Esse encanto, esse canto em disparada
Não nasceu do saber de uma escola
Mas do som do ponteio da viola
Do gorjeio de toda a passarada.

Ouvi bem o cantar dos passarinhos
Eles falam do sol da minha terra
Do riacho correndo pela serra
Da pobreza perdida nos caminhos.
Escutai, eles falam dos seus ninhos
E a cantar entre eles não demora
Triste ave de voz doce e canora
Que ao cantar sempre o faz com mais beleza
E calai, porque toda a natureza
Silencia quando a patativa chora.


(Poema recitado na apresentação de Patativa do Assaré durante a reunião da SBPC, em 1979.)






CANTE LÁ E CANTE CÁ

Oswald Barroso



Seu poeta Patativa
Cantô do rude agregado
Lhe escrevo essa missiva
Espero que tenha agrado.
Num arrepare nas rima
Pois só cunheço pru cima
O sertão e a puisia.
Dos aprindiz da verdade
Sô um bobo da cidade
Dos de pio qualistria.

Mermassim peço um minuto
Pra suletrá um puema
No seu estilo matuto
Refirindo sobre o tema
Que mercê cantô um dia
Na fumosa puisia
Cante lá que eu canto cá.

Meu cumpade ter razão
Na sua clarividença,
Num canta bem o sertão
Quem veve nas incelença
Dos prazê das capitá
Tomano banho de má
Nas águas duma piscina
Bordando os tá de soneto
Pra enfeitá os coreto
Das rica gente granfina.

Vancê mais do que ninguém,
Apois sofreu no espinhaço,
Sabe, no sertão também
Tem a safra dos ricaço
Dos ta latifundiaro
Que daí são donataro
Sinhô de terra e de gente.
Dos burguês da capitá
Veve num prazê iguá
Num gozo não deferente.

Pra louvá suas gulora
Tem seus pueta afilhado
Que daí só conta histora
De frutuna e de encantado
Usando a arsa gramática
Das estrofe enigmática
No participo passado
Mais que perfeto e gerundo
Prá cantá o latifunfundo
E os barão afrutunado.

Iguarmente na cidade
Sofre na pele o cassaco
Passando necessidade
Preso dento de um saco
Sem fundo, boca ô costura
Padicendo na usura
O pobre veve sujeto
Rola dum lado pru ôtro
E o patrão só paga o troco
Pulo trabaio bem feto.

O pueta disse eu digo
No Brasi tem dois brasi.
Tem ricaço e tem mindigo.
Se os prazê dos rico é mi
O sofrê dos pobre é mai.
Pra discrevê os seus ai
Só um cassaco valente
Que no côro sinta a dô
E recunheça o valo
Dos trabaio de sua gente.

Eu que vivo aqui na rua
Vendo seu verso possante
De beleza rude e crua,
Peço ao amigo que cante
Pru favo rimexa aqui
Cuma bem rimexe aí
Nos sete pé de sua glosa
Cante cá e canta lá
Cante aqui e açula
Cantado da mão calosa.

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